Sobre o Amor
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”.
Estas sublimes palavras do Apóstolo dos Gentios em sua primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 13, são como um bálsamo para nossos corações, pois definem o amor em sua essência. Ele mesmo é a essência, conforme nos elucida Emmanuel, na medida em que o amor é o alicerce da Criação Divina. Por amor tudo foi feito, mas o homem em sua infância espiritual ainda possui muitas dificuldades para entender esta verdade.
O amor de fato há de ser apenas um, contudo, por vezes damos a ele sentidos diversos. Santo Agostinho, por exemplo, em sua obra Confissões, aborda a existência do amor Caritas. Este vernáculo com origem no latim, significa caridade, ou seja, um amor de origem incondicional e que traduz a nossa possibilidade de conexão máxima com Deus. Vejamos o excerto agostiniano a seguir:
“Quem, então, pensa que entende as Divinas Escrituras ou qualquer parte dela, mas coloca nelas uma tal interpretação que não tende a edificar esse amor gêmeo, a Deus e ao próximo, ainda não as entende.” — De Doctrina Christiana I, 36, 40
Podemos ouvir que o amor a fundação do mundo, mas pode ser que soe como um “sino que tine”, ou seja, sem nenhum efeito prático na vida de cada um de nós.
A prática do amor, não visando um objetivo, porém sua execução por total desinteresse, somente desta maneira o amor pode se tornar verdadeiro.
O amor Caritas se opõe ao amor mundano, que de fato não é amor, mas apenas na parte homônima do substantivo. O amor mundano é apenas desejo e chamado de amor de forma equivocada. Por isso, para Agostinho existe a necessidade desta distinção, como se encontra no excerto a seguir:
“Eu chamo “amor” ao movimento da alma para fruir a Deus por ele mesmo, e a si mesmo e ao próximo por causa de Deus; e cupidez é o movimento da alma para fruir a si e ao próximo e a qualquer outro corpo, sem Deus como motivo.” — De Doctrina Christiana III, 10, 16
Nesta ótica, amor é o veículo de conexão entre os homens e Deus. E aquele que diz amar a Deus, mas não ama o seu próximo, cai em contradição. Pois impossível é amar o Criador, sem amar antes aqueles que são seus filhos e efeitos diretos de Sua vontade.
Apenas o exemplo é o suficiente, precisamos de fato desta transformação nas nossas atitudes, para que o amor permeie toda uma postura de vida. Acordamos já pela manhã na nobre missão de plasmar o amor em tudo que fazemos, em tudo o que tocamos, em tudo em que pensamos. Não trata de forma alguma de uma utopia, mas da mais nobre possibilidade de uma vida livre em si mesma.
Pelos efeitos salutares, sabemos que somente o amor liberta a consciência de seu passado e presente delituosos. De fato, o exemplo é tudo nesta questão, bastando que nos lembremos do Cristo de Deus, que amou a todos sem exceção, na plenitude do seu significado. Na mais nobre das missões outorgou que O seguíssemos, amando o mundo assim como Ele nos amou.
Justificado assim, o amor é necessário para gerar a vida e, portanto, a nós mesmos; o amor é também um reflexo das qualidades divinas a serem exercidas em nós e ao mesmo tempo é o veículo para que tenhamos o contato mais direto possível com o entendimento deste Ser desconhecido. Uma vez amando Suas obras, o véu se descortina e quanto mais aprendemos a amar, mais a face de Deus se mostra à nossa razão.