A Ciência da paz
A todo instante estamos preocupados com o futuro. Queremos ter a certeza do sucesso de nossos esforços, queremos a garantia de que nos momentos vindouros haverá calma, ausência de problemas. Mas o mundo e suas leis que regem a existência parecem estar inertes às nossas aspirações.
Vemos uma criança que se comunica diante de um desejo simples, como querer segurar um objeto e examiná-lo. Quando não consegue obtê-lo, por exemplo, por ser algo perigoso, pode chorar, berrar, gritar, espernear, fazer de tudo obter o que deseja. A criança quando ainda nos primeiros anos de vida dificilmente sabe esperar, não consegue pensar numa ordem para o mundo e tudo o que quer acredita poder se materializar instantaneamente. Sabemos que satisfazer os desejos de um infante não é nada proveitoso para sua educação no campo da inteligência emocional, pois diante dos desafios na vida adulta não haverá ninguém para mimá-lo da mesma forma.
Os tempos modernos são permeados pela ansiedade generalizada, a pressão por sucesso é enorme e incide sobre nós desde à imposição do ganho financeiro até a permanência da beleza e da saúde física. E quando os fatos não acontecem como desejamos, qual é nossa reação? Temos uma tendência maior para a revolta ou para exprimir a paciência?
A origem da palavra “paciência” está no latim “pati” que significa “aguentar”, “sofrer”. Também deriva do grego “pathe”, que significa “sentimento”. Zenão de Cítio, filósofo grego e fundador estoicismo, defendia a paciência como uma virtude humana. Para este pensador é a verdadeira ciência da paz, uma atitude consciente e racional diante dos acontecimentos nos quais não podemos controlar.
Um aspecto importante e que faz parte da paciência é a resistência que ela nos confere para não sucumbirmos. A mente por vezes nos engana, pode ser que não se contente em ter que esperar algum resultado e se desequilibre por exigir certo imediatismo. Nesse caso, trata-se de um condicionamento da infância que permanece e nos cega na vida adulta, uma espécie de anestesia das nossas percepções que não alcança o verdadeiro papel que desempenhamos no mundo.
Todas as realizações, todas soluções para os nossos problemas são processos. Precisamos entender que todo problema na verdade não existe fora de nós. Somos o próprio problema, dessa forma torna-se mais importante viver o processo, para haja assimilação de conhecimento. Toda experiência, mesmo aquelas associadas a episódios de intenso sofrimento possuem algo de benéfico para o Espírito. Não estamos a defender o suplício, mas antes perceber que sem a imersão na experiência humana, seja na dor ou não, não há como caminhar para o seu fim. No campo da psicologia podemos relembrar o pensamento de Carl Young que afirma ser necessário passarmos pelo lado mais profundo do sofrimento para atingir a plenitude.
Quais as atitudes que devemos tomar diante das tribulações? Aquilo que ainda não aconteceu tem igual potência de se suceder, assim como a sua não realização. O medo que se instala diante da dúvida é o principal inimigo da paciência. Pergunta-se então se é possível o controle das emoções, para decidirmos pela calma nas ações ao invés da violência?
Existe uma relação intrínseca entre a paciência e a razão. De forma que agir com a ciência da paz não é um impulso, mas uma decisão pensada. O cristianismo em sua essência defende esse modo de se comportar como um dos seus fundamentos. Pode-se encontrar essa referência no Sermão da Montanha (Mateus 5:7). Em seu discurso, Cristo afirma que os mansos serão os que herdarão a Terra, além disso confere aos que promovem a paz a condição de serem filhos de Deus.
Certamente verdades incontestáveis. Qualquer homem em sua lucidez pode corroborar tais assertivas, bastando comparar os resultados em nossas vidas quando agimos com impaciência. De volta ao pensamento dos estoicos, a paciência nada tem haver com o ócio ou com a inércia. Pelo contrário ela é pura ação premeditada, que sabe acompanhar o desenrolar da contingência, sem se envolver emocionalmente com os possíveis resultados. A paciência é nesse ponto de vista uma força incrível.
Paulo de Tarso, apóstolo dos gentios dá testemunho da paciência em sua epístola aos Romanos 12:12, quando afirma: “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração”. Tão fortes ensinamentos são a prova viva de que não há como se praticar a paciência se tudo estiver na mais pura brandura. É justamente diante das provações que somos incitados a exercê-la. Ao mantermos a constância em nossas decisões, ao sermos perseverantes na observância de nós mesmos, estamos com certeza semeando os “frutos do Espirito”. A paciência não só é a melhor atitude diante dos imprevistos, mas também reflete nossa condição interior, de alguém que mantém a confiança em si mesmo, na sua capacidade de suportar com alegria e esperança qualquer adversidade.