Fixação Mental

Sabemos que o pensamento é o principal atributo do Espírito. É a partir dele que temos a possibilidade do livre arbítrio e exercermos a nossa vontade. Deus misericordioso, soberanamente Bom e Justo nos concedeu essa condição de vida, mas exigindo de nós o cumprimento das responsabilidades.

Sem nenhum impedimento no campo do pensamento, escolhemos nossos caminhos, determinamos quais os objetos do mundo vamos atribuir certos valores e gradativamente acabamos por criar um campo mental que em sua forma fluídica caracteriza nossas personalidades.

O bem e o mal são caminhos pelos quais o homem experimenta no seu cotidiano e deve discernir sobre quais os efeitos de seus atos a todo instante. O conhecimento do bem como um patrimônio do Espírito e inalienável faz parte do conjunto de lições que temos que aprender na presente encarnação. Quando não entendemos estas prerrogativas divinas, acabamos por desenvolver inferiores faixas vibratórias no pensamento, causando as mais diversas psicopatologias.

A Lei de causa e efeito é inexorável, ou seja, não há como corrompe-la. Portanto, tudo o que fazemos gera consequências, imediatas ou futuras, positivas ou negativas, de acordo com as nossas intenções.

Vejamos o que diz Kardec em sua Obra Céu e Inferno, no capítulo Sofredores:

“Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo presas de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada veem que possa aproveitar ao exercício da sua maldade — o que os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos”.

Dessa maneira, todos nós somos corresponsáveis pelo mundo. Estamos conectados uns aos outros por necessidades existenciais, em outras palavras, dependemos uns dos outros. Quando agimos na maldade de forma premeditada, buscando uma satisfação pessoal imediata, agimos como que cegos diante dos fatos. Infantilmente não conseguimos antever as consequências futuras de nossos atos.

Para melhor compreender o processo é necessário mencionarmos que o pensamento é uma substância imaterial que exerce influência sobre os fluidos eletromagnéticos. Ele modifica a qualidade dos fluidos, os quais podem também ser positivos ou negativos. Quando pensamos na maldade, quando corrompemos nossa moralidade de qualquer maneira, as ondas mentais causam modificações em nosso perispírito, que por sua vez geram desequilíbrios na nossa psique.

“E porque o pensamento é força criativa e aglutinante na criatura consciente em plena Criação, as imagens plasmadas pelo mal, à custa da energia inestancável que lhe constitui atributo inalienável e imanente, servem para a formação das paisagens regenerativas em que a alma alucinada pelos próprios remorsos é detida em sua marcha, ilhando-se nas consequências dos próprios delitos”.

Conforme se comprova no excerto da obra “Evolução em dois mundos”, de Chico Xavier, representações dos nossos delitos surgem na mente e como se trata de uma “dívida” que temos para a vida, ela acaba se plasmando no corpo mental como um reflexo condicionado e repete-se continuamente.

Essa fixação mental na maioria dos casos, nada mais é do que a culpa pela imprevidência diante da Leis Divinas, ou seja, o próprio indivíduo em seus processos do inconsciente cobra de si mesmo o reajuste necessário.

Cabe caracterizar esse quadro de um ponto de vista mais amplo, analisando todo o retrospecto de uma dada existência física. Muitas pessoas passam seus anos na Terra acreditando piamente, sem qualquer evidência científica que a vida finda com a morte. Criam todo um campo mental que estrutura como a realidade é, mas de forma ilusória. Sendo assim, quando desencarnam, presos aos objetos materiais, suas conquistas pessoais, títulos, carreiras, propriedades, criam de outra maneira certo tipo de fixação mental. Fixação essa pela vida que tinham e na qual apresentam muita dificuldade de abandonar.

A morte como afirmava Sócrates, pensador grego, deve ser o momento mais belo de qualquer filósofo, mas o que ele queria dizer com isso? Não afirmava claro, que devemos morrer todos agora, mas sabia que sem o corpo o Espírito é muito mais livre, pois já não se aprisiona aos sentidos.

Voltando às pessoas presas à matéria, essas apresentam muita dificuldade em enxergar que a vida espiritual é mais ditosa do que a presente; sofrem, não dores do corpo, mas as dores da mente, que ainda presa a este mundo não consegue se desvencilhar.

Vês nesse mundo pessoas excessivamente invejosas. Imaginas que, mal o deixam, perdem esse defeito? Acompanha os que da Terra partem, sobretudo os que alimentaram paixões bem acentuadas, uma espécie de atmosfera que os envolve, lhes conservando o que têm de mau, por não se achar o Espírito inteiramente desprendido da matéria. Só por momentos ele entrevê a verdade, que assim lhe aparece como que para mostrar-lhe o bom caminho.” – O Livro dos Espíritos Questão 229.

A passagem acima da obra de Kardec nos elucida o que já vem sido discutido; uma educação com valores frouxos, a falta do Evangelho em nosso cotidiano, a falta do conhecimento de si mesmo como Espírito imortal, tudo isso contribui para que nosso Espírito deixe de ser guiado por valores permanentes. Esses são justamente aqueles que carregaremos conosco para toda a eternidade. Portanto, cabe a cada um nós jamais esmorecer, somos falhos, imperfeitos, claro, mas busquemos no Evangelho a certeza absoluta de quem somos, para onde vamos, assim teremos um norte mais seguro para edificarmos nosso intelecto e sentimentos na Verdade do Espírito. Sejamos desde já trabalhadores desta libertação, primeiramente para nós mesmos e em segundo momento para aqueles que necessitarem.

O Evangelho é como um alimento, cheio de nutrientes, energia vital, mas para o Espírito. É nele onde encontramos de forma simples e clara as verdades mais sublimes do nosso ser. Se quisermos e certamente precisamos nos fortalecer a cada dia contra as más influências e, principalmente contra aquelas que surgem dentro de nós mesmos, precisamos então orar e vigiar. Esse ensinamento de Jesus é poderoso, pois é um antídoto contra os nossos vícios mentais. Certamente desejamos ser pessoas boas e justas, mas diante das situações do mundo somos tentados a praticar aquilo que sabemos ser errado. Temos muitas lições a aprender, sendo uma das principais, vencer nosso próprio egoísmo para dar lugar à caridade, que em outras palavras é o amor incondicional que Cristo nos exemplificou.